Queridos leitores, o texto de hoje aborda um assunto muito
interessante e que esta muito presente na nossa sociedade atual: o Transtorno
Bipolar. O texto é o relato de uma experiência vivida por uma aluna de
Enfermagem da USP, enquanto essa cursava a disciplina de Enfermagem Psiquiátrica.
Sua experiência consistiu em acompanhar uma paciente portadora de perturbação bipolar, e fazer a analise do comportamento da
paciente e das técnicas terapêuticas usadas pela estudante durante o
acompanhamento.
O distúrbio de humor que conhecemos como perturbação bipolar
ou transtorno bipolar, é chamado de Psicose Maníaco-Depressiva (PMD). Essa doença
pode ser subdividida em três fases, de acordo com a sintomatologia do episodio:
A fase maníaca, onde o paciente apresenta elevação de humor, grande euforia e possui ideias e planos
grandiosos; a fase mista, onde o paciente aparenta passar por um período de estabilização
do humor; e a fase depressiva, onde o paciente esta num estado melancólico e
sem interesse pela vida.
Durante o tratamento da psicose, uma boa relação entre o
enfermeiro e o paciente é essencial e para que isso ocorra, depende muito das características
próprias de cada enfermeiro, sua personalidade, habilidade e compreensão para
lidar com o paciente. Para que haja essa boa relação, algumas ações por parte do
enfermeiro são muito importantes: primeiramente ele deve aceitar o paciente,
chama-lo pelo nome, compreender seus direitos e estar sempre apoiando-o
independente do resultado do diagnostico, o enfermeiro deve também ter sempre
uma postura firme e coerente, dando mais segurança ao paciente. Para facilitar a interação enfermeira-paciente, a enfermeira deve ouvir o paciente em silencio, refletindo sobre o que esse esta dizendo, verbalizando aceitações, afim de proporcionar ao paciente estímulos para falar e expressar seus sentimentos.
Na fase depressiva da psicose, o paciente geralmente não
quer conversar, por esse motivo, o enfermeiro deve ter muita paciência e tentar
incentivar o paciente a conversar, fazendo perguntas claras, ouvindo bem o que
ele diz e demonstrar interesse de forma que o paciente queira continuar
falando. Já na fase maníaca, o paciente pode se apresentar como uma pessoa
totalmente diferente, oposta a fase depressiva. Nessa, o paciente já fala demais
e muitas vezes suas ideias não possuem sentido lógico. Sendo assim, na fase maníaca,
o enfermeiro deve sempre colocar a ideia principal do pensamento em foco,
ajudando assim o paciente a organizar suas ideias, diminuindo seu nível de
ansiedade.
Sobre os enfermeiros e seus sentimentos, a estudante diz que
na fase maníaca o paciente provoca muita irritação na equipe, pois ele esta
muito agitado e agressivo; na fase depressiva, os enfermeiros também ficam
irritados, mas se sentem impotentes, pois o paciente esta tão desanimado que
contagia os demais, fazendo com que todo o ambiente fique depressivo. Nessa
ultima fase é mais difícil se comunicar com o paciente ou até mesmo demonstrar
interesse no que ele diz, pois o paciente tem muitas ideias de tentar se
suicidar.
O lugar onde cada paciente deve ficar também deve ser escolhido cuidadosamente. O
paciente na fase maníaca deve ficar em um lugar onde haja poucos pacientes e
que tenha um ambiente o mais tranquilo possível, com o mínimo de estímulos.
Aqueles não devem ficar juntos com os pacientes que estão na fase depressiva,
pois o comportamento desses o irrita muito.
Um dos principais focos do texto é a experiência vivida pela
estudante. A paciente era uma senhora, de 61 anos, viúva a 20 anos, de classe econômica
baixa. R. L., como foi chamada pela estudante, para preservar sua identidade,
foi diagnosticada a 1 ano e meio com
Psicose Maníaco-depressiva crônica, de ciclagem rápida, ou seja, não passou
pela fase mista, a fase da normalidade. Quando começou a sentir os sintomas da doença,
ela foi internada pelo seu genro. Nessa época, ela estava passando por uma fase
maníaca, ficava vagando pelas ruas de madrugada e batendo nas janelas das
casas. No primeiro contato que a enfermeira teve com a paciente, essa passava
por uma fase depressiva, tinha um olhar triste e não encarava as pessoas, com
isso houve a dificuldade em conversar com a paciente, deixando a enfermeira até
com raiva em alguns momentos. A estudante usou principalmente as técnicas do
silencio terapêutico, do apoio ao paciente, da verbalização de interesse e aceitação,
da clarificação das ideias e da repetição
das ultimas palavras ditas pela paciente.
Enquanto a enfermeira se preparava para tratar da paciente na
fase depressiva, essa passou por três sessões de ECT (Eletroconvulsoterapia),
tratamento utilizado nos pacientes com essa psicose, e com isso passou para o quadro de
euforia, ou seja, a paciente havia passado para a fase maníaca. A paciente, durante
essa fase, estava alegre, falante,
agitada, tinha um relacionamento social com os demais pacientes, participou da
Terapia Ocupacional e dos Grupos de Atividades. Para a estudante, lidar com a
paciente nessa fase foi mais tranquilo, pois ela não tinha que forçar a
paciente a falar.
A estudante conta também que após ter passado por toda a experiência,
ela pode perceber que os cuidadores passam por muitas dificuldades, sentem
desanimo, tristeza, impaciência, irritação, desestimulo, impotência e até mesmo
inutilidade. E que com tudo isso, o maior desafio do profissional é não deixar
ser tão abatido por esses sentimentos.
Pessoalmente eu nunca
vi uma pessoa com esse tipo de distúrbio emocional, já tinha lido sobre, mas
com os relatos da estudante, eu fiquei muito mais curiosa e intrigada a saber
mais sobre o famoso transtorno bipolar. Diante de tudo o que li, eu fico
pensando... Como o ser humano é incrível. Sua mente principalmente! Nesse caso
nos observamos que a paciente de uma hora para a outra passou de uma fase
depressiva para uma fase maníaca. Em uma hora estava triste e depressiva, no instante seguinte estava contente e conversava com todos. Como isso é incrível e intrigante! Com
certeza não deve ter sido fácil para a estudante lidar com essa paciente, mas
eu acredito que experiências como essa fortalecem a pessoa, pois somos capazes
de pensar melhor sobre tudo o que nos rodeia. E você? Conseguiria lidar com uma
pessoa com transtorno bipolar? Seria capaz de ajuda-la a passar por esse
momento tão difícil? Com certeza são perguntas no mínimo intrigantes, não é mesmo?
Obrigada pela atenção e até o próximo texto!
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